O açúcar pode ser uma fonte de energia para o nosso organismo, mas o excesso de açúcar com certeza é prejudicial.
Grande parte dos alimentos que ingerimos é transformada em glicose, que é transportada do intestino para o nosso sangue; assim, a energia proveniente dos alimentos é distribuída, através da circulação sanguínea, a todo o nosso organismo.
Se fizermos as contas da quantidade de glicose que existe no volume total de sangue circulando em nosso corpo (mais ou menos 6 litros de sangue), temos um resultado surpreendente: o equivalente, aproximadamente, a apenas uma colher de chá de açúcar!
Nosso organismo procura manter a quantidade de glicose constante no sangue, com mínimas variações nos estados de jejum e após as refeições. Imagine o esforço que nosso organismo precisa fazer para retornar a taxa de glicose no sangue (glicemia) para a faixa normal (até 99 mg/dl) quando ingerimos um pedaço de bolo!
Podemos comparar nosso organismo a uma máquina que processa os alimentos para obter energia, e como toda máquina ele tem uma capacidade máxima que deve ser respeitada.
Tomemos como exemplo uma lavadora de roupa que tem capacidade para lavar 7 quilos de roupa: o que acontece se você colocar 21 quilos de roupa de uma só vez nesta máquina? Ela quebra. Mas se você lavar 7 quilos de cada vez, respeitando sua capacidade máxima, ela vai durar muitos anos.
A ingestão de açúcar em excesso, de uma vez só, como quando comemos um pedaço de bolo, provoca uma elevação rápida da glicose no sangue. Na tentativa de trazer de volta ao normal a quantidade de glicose acumulada no sangue, nosso organismo faz com que o pâncreas produza um hormônio chamado insulina, que serve para retirar este excesso de glicose da circulação. A insulina facilita a passagem da glicose do sangue para as células dos vários tecidos do corpo, fornecendo assim a energia necessária para seu funcionamento.
Quando sobra glicose, as moléculas de glicose se unem umas às outras para formar uma molécula maior chamada glicogênio, e assim é feito o estoque, como se empilhássemos a “mercadoria” em prateleiras. Este estoque é colocado principalmente em dois locais: no fígado e no músculo, mas a capacidade de estocagem é muito limitada, o “almoxarifado” é pequeno. Todo o nosso estoque de glicose dá somente para suprir de energia nosso organismo por menos de um dia.
AS DOENÇAS QUE PODEM VIR DO EXCESSO DE AÇÚCAR NA ALIMENTAÇÃO
Quando a ingestão de açúcar é muito grande e ultrapassa a capacidade de estocagem de glicose nos músculos e no fígado, a glicose é transformada em gordura e é armazenada no tecido adiposo, favorecendo o aparecimento de obesidade.
O aumento do tecido adiposo, especialmente quando o acúmulo de gordura se faz preferencialmente na região intra-abdominal, faz com que a insulina não funcione adequadamente, fique “fraca”. Assim, uma quantidade maior de insulina vai ser necessária para realizar o transporte da mesma quantidade de glicose; é o que os médicos chamam de resistência à ação da insulina. Quanto maior o acúmulo de gordura intra-abdominal, mais “fraca” fica a insulina. Enquanto o pâncreas “der conta do recado”, ou seja, for capaz de produzir mais e mais insulina, as taxas de glicose no sangue vão se manter dentro do normal, mas às custas de um excesso constante de insulina, que traz conseqüências para o resto do organismo, como por exemplo o aumento da pressão arterial.
Uma característica do tecido adiposo intra-abdominal é que ele não é um bloco de gordura estanque, ele tem um turn-over muito grande, captando do sangue e liberando na circulação, numa troca constante, substâncias que são prejudiciais à saúde e podem levar à aterosclerose, infartos e derrames, diferentemente da gordura que se acumula no tecido subcutâneo. Neste sentido, o famoso “pneuzinho”, e também o “culote”, são acúmulos de gordura muito menos prejudiciais ao organismo do que a gordura intra-abdominal.
Quando a resistência à insulina for tão acentuada que ultrapassa a capacidade máxima de produção de insulina pelo pâncreas (geneticamente herdada), acumula-se glicose no sangue, surgindo então o diabetes nas pessoas predispostas a esta doença.
O CICLO VICIOSO DO AÇÚCAR
Dietas muito ricas em açúcares podem aumentar o apetite e reduzir a saciedade. Quanto mais açúcar ingerimos, mais insulina precisamos fabricar para metabolizá-lo. Evidências sugerem que altos níveis de insulina (hormônio fabricado pelo pâncreas, que retira a glicose do sangue levando-a para dentro das células) parecem interferir com a sinalização da leptina (hormônio fabricado pelo tecido adiposo, que avisa o cérebro sobre a quantidade de gordura estocada): quando os níveis de insulina estão muito altos, o cérebro não fica sabendo quanta gordura está estocada, e o resultado final é uma maior ingesta de alimentos. Em outras palavras, quanto mais doce comemos, mais temos vontade de comer.
O PERIGO DOS REFRIGERANTES
Estudo publicado em 2007 no American Journal of Public Health, com 91249 mulheres seguidas por 8 anos, mostrou que aquelas que consumiam um ou mais copos de refrigerante com açúcar por dia tinham duas vezes mais chance de desenvolver diabetes do que aquelas que consumiam menos de um copo por mês. O consumo de refrigerante com açúcar também esteve ligado à diminuição do consumo de leite, cálcio, frutas e fibras, ao aumento do consumo de calorias e ao ganho de peso. Ao que parece, as pessoas não fazem a compensação das calorias do refrigerante diminuindo as calorias da refeição. Assim, levanta-se a possibilidade de os refrigerantes poderem aumentar a fome, diminuir a saciedade, ou simplesmente calibrar o organismo para um gosto doce muito acentuado.
ALGUMAS RECOMENDAÇÕES EM RELAÇÃO AO CONSUMO DE AÇÚCAR
A Organização Mundial de Saúde recomenda que no máximo 10% das calorias diárias sejam provenientes do açúcar. Mas lembre-se de que não temos necessidade de consumir açúcar, pois os alimentos que ingerimos normalmente já nos disponbilizam quantidade suficiente de glicose.
A ingestão de açúcar em pequenas quantidades durante o dia é menos prejudicial do que consumir uma grande quantidade de uma só vez, pois sobrecarrega menos o pâncreas.
A ingestão de açúcar após uma refeição é menos prejudicial do que ingerí-lo sozinho, pois sua absorção é mais lenta quando ingerido após uma refeição, principalmente se esta for rica em fibras, fazendo com que a glicose chegue ao sangue mais lentamente e a taxa de glicose no sangue não se eleve tanto. Portanto, é melhor comer o doce como sobremesa do que sozinho no meio da tarde.
A glicose sanguínea pode ser usada para produzir energia; assim, fazer atividade física pode evitar o acúmulo de glicose no sangue, minimizando os efeitos da ingestão de açúcar.
Evite comer doces à noite e em seguida ir dormir, pois este açúcar não utilizado como energia vai ser armazenado como gordura.
Não precisamos banir o açúcar do nosso cardápio, mas devemos respeitar nosso corpo, como se respeita um templo, afinal ele é nossa verdadeira casa. Qualquer alimento, desde que ingerido com moderação e saboreado com prazer, sem pressa e sem ansiedade, dentro de uma dieta equilibrada, não é prejudicial. Lembre-se de que nossa saúde é o reflexo do que, do quanto e de como comemos.
Outras doenças relacionadas ao consumo de açúcar em excesso:
Com relação ao diabetes, podemos relacionar as seguintes complicações:
- Cegueira
- Impotência masculina
- Amputação dos membros inferiores
- Problemas cardiovasculares
- Insuficiência renal
Uma taxa de glicose mais elevada do que o nível ideal é uma das principais causas de mortalidade cardiovascular em várias regiões do mundo Prejudica a memória, pois causa declínio cognitivo Envelhecimento precoce, pois o alto consumo de açúcar aumenta a formação de radicais livres, que, em excesso, podem causar efeitos deletérios ao organismo, gerando o estresse oxidativo, ou seja, os radicais livres alteram o funcionamento das nossas células, favorecendo o envelhecimento celular.
Pode causar enxaqueca, distúrbios de concentração, fadiga crônica (pois ele gasta vitaminas do complexo B e minerais), e ainda destrói alguns nutrientes essenciais ao seu próprio metabolismo, como por exemplo, o cromo.
Prejudica o sistema imunológico - Cerca de 70-80% dos sinais da modulação do nosso sistema imunológico vêm da parede do intestino. As responsáveis por manter a integridade da parede intestinal e fazer com que a modulação do nosso sistema imunológico trabalhe de forma adequada são as boas bactérias. Entretanto, o açúcar é o alimento preferido dos fungos e más bactérias, que prejudicam o bom funcionamento do intestino, e, conseqüentemente, do sistema imunológico.
Além disto, o açúcar aumenta a excreção de determinados nutrientes pelo organismo, entre eles, os responsáveis pela ação da modulação do sistema imunológico, ou seja, prejudica as defesas do organismo, fazendo com que as pessoas fiquem mais propensas a gripes, candidíases, herpes, amigdalites, entre outras doenças.
Pode produzir reações alérgicas, inclusive na forma de caspa e acne.
Dra. Anete Hannud Abdo, da USP